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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Itália 2 x 0 Espanha - Oitavas-de-final - Eurocopa 2016

Escalações

Antonio Conte continou com seu time base no 3-5-2. Nas alas, optou por Florenzi - direita - e De Sciglio na esquerda. A Espanha também teve força máxima, com De Gea o novo titular absoluto no gol. 

Espanha pressiona errado.

Logo nos minutos iniciais, ficou claro que a Itália tinha alguma vantagem estratégica sobre a Espanha. Mesmo antes do gol de Chiellini, o time azul tinha chegado com perigo algumas vezes. O problema é que a Espanha não conseguiu acertar a pressão na saída de bola dos italianos. Os seus três atacantes tentavam pressionar os três zagueiros italianos, mas os dois alas recuavam para ajudar, facilmente contornando a pressão. Os laterais espanhóis hesitavam em avançar tanto para pressionar, e quando o faziam, facilitavam a vida dos dois atacantes, abrindo espaço para Éder e Giaccherini aproveitarem.

Enquanto isso, a Itália pressionava muito bem a saída da Espanha, o que forçou o goleiro De Gea a dar muito mais chutões do que Buffon. A Itália avançava seus alas e marcava os quatro jogadores da defesa da Espanha. Apesar de parecer que os três zagueiros ficavam sós com os três atacantes espanhóis, isso raramente ocorria, porque a Espanha não usa transições rápidas, preferindo trocas de passes mais elaboradas, o que dava tempo da Itália se recompor.

O sucesso da estratégia italiano é evidenciado na figura a seguir. Nela, é possível perceber que a Itália tinha mais passes do que a Espanha - famosa pelo toque de bola - até o momento do gol. Além disso, A Itália conseguia sair jogando na defesa, devido a Espanha não sabendo pressionar. Enquanto isso, a Espanha recorria aos chutões, pois a Itália marcava bem a saída.


Itália anula Busquets.

Outra parte importante do plano da Itália era anular Busquets. O "volante" é um jogador chave no time da Espanha, bem como no Barcelona. A partir da sua posição mais recuada no meio-campo, ele inicia e distribui as jogadas, ditando o ritmo de jogo. A Itália usava a dupla Pellè e Eder para marcá-lo quando a Espanha tinha a posse, de forma que ele pouco pôde contribuir, se tornando um dos jogadores que menos tocou na bola na primeira etapa.

Comparando os passes no primeiro tempo de Busquets e De Rossi, o volante-armador da Itália, a constatação de que Busquets foi anulado fica clara.



Pellè aproveita espaço entre as linhas.

O atacante italiano foi um dos destaques do jogo. Sua atuação foi de uma referência clássica. Soube se impor fisicamente, fazer o pivô, e também sair da área para receber a bola, atrair a marcação e abrir espaços para os companheiros. Frequentemente no primeiro tempo, os três homens de meio-campo da Espanha avançavam para tentar pressionar a Itália, deixando espaço entre as linhas. Sem um camisa 10 clássico, coube a Pellè se aproveitar desse espaço, servindo como a referências para passes a partir da defesa italiana.

O jogo de Pellè foi bem complementado pelo brasileiro Éder. Mais rápido, o brasileiro aproveitava as brechas na defesa criada pelo companheiro, se movimentando bem entre os zagueiros e laterais. Eder e Pellè muitas vezes forçavam para ocupar os dois zagueiros espanhóis, de forma a matar a sobra adversária. Perceba no gráfico abaixo como Pellè geralmente recebia a bola na zona a frente da defesa da Espanha, e prosseguia a jogada abrindo a bola na lateral, com as subidas dos alas.


Itália confortável em diferentes situações.

Com a vantagem no placar, era natural que a Espanha viesse pra cima, ainda mais com o cansaço natural da pressão italiana. De fato, o segundo tempo viu o domínio espanhol na posse de bola, como era esperado. Entretanto, a Itália não tem problemas em recuar suas linhas e se defender com uma linha de cinco. O grande mérito do time italiano foi ter a capacidade de atuar com e sem a bola. Contando com os melhores zagueiros do mundo nesse estilo de jogo, a Itália suportou a pressão espanhola muito bem.

Em contraste, a Espanha só soube jogar com a bola. Isso a tornou prevísivel, pois Conte sabia que eles não recuariam as linhas, e se a Itália tentasse sair jogando, eles teriam de correr atrás. A pressão errada da Espanha permite supor que eles nem imaginariam que a Itália tentaria competir na posse de bola, que começariam na forma ultra-defensiva, mas não foi isso que a Itália fez. A Itália forçou a Espanha a sair da sua zona de conforto, enquanto ela própria soube jogar bem mesmo em situações diferentes.

Espanha sofre com atacantes

A espanha começou o jogo com Nolito e Morata, sua dupla titular até aqui no torneio. Ambos não conseguiram produzir muito na frente, facilmente marcados pelos italiano e também não foram capazes de atrapalhar a saída de bola italiano. No intervalo, Del Bosque colocou Aduriz no lugar de Nolito, com Morata indo pra ponta. Depois, Morata deu lugar a Lucas Vasquez, que veio jogar aberto pela direita, para tentar esticar o time italiano de forma que os outros atacantes não conseguiram. Por último, Aduriz saiu machucado para Pedro entrar. É emblemático que Del Bosque tenha usado todos os seus 5 atacantes no jogo, sem que nenhum fosse capaz de causar grande impacto. Certamente, os atacantes espanhóis destoam do resto do time

Conclusão

A Espanha, uma das maiores influências futebolísticas da última década, foi eliminada do seu segundo grande torneio, depois de ter vencido três em sequência. Com isso, pode-se declarar o fim da sua hegemonia. O seu legado é muito grande, não só fomentou o futebol de controle via posse de bola, como também as estratégias de contenção.

Parte do declínio espanhol se dá as estratégias encontradas pelos adversários, que tiveram de reinventar também as formas de defender. Outra parte se dá pela aposentadoria de Xavi, que era o arquétipo de meio-campista necessário para o estilo de jogo espanhol. Agora, seu legado permanece em outras seleções, notadamente com Kroos na Alemanha.

Como foi dito na prévia dos favoritos, a Espanha tenta manter um estilo de jogo que já sofreu muitas modificações em seus clubes. O tiki-taka puro da seleção espanhola precisa aprender um pouco com o jogo de contra-ataque e pressão do Atlético de Madrid, do Real e mesmo do atual Barcelona. Sem Xavi, o tiki-taka dificilmente será executado com a mesma perfeição novamente. É por isso que a Alemanha parece cada vez  ser a próxima hegemonia, com o tiki-taka de Guardiola mesclado com a pressão de Klopp. 

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