Pages

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Real Madrid 1 (5) x (3) 1 Atletico de Madrid

Pragmático, Real Madrid faz Atlético provar de seu próprio veneno: Um gol no ínicio e linhas recuadas, sem vergonha de abusar do contra-ataque. Atlético sofre sendo obrigado a propor o jogo, impedido de executar a estratégia que lhe levou a final. No segundo tempo, Simeone arrisca, melhora o time e consegue chegar ao gol de empate. Sem poder de fogo para reagir, Real Madrid arrasta o jogo para os pênaltis e vence.


Escalações

Atlético no 4-4-2 bem estreito. Real em um 4-3-2-1.

Zidane, técnico do time principal do Real há menos de seis meses, escalou os seus onze preferido. O mesmo que venceu o Barcelona no Camp Nou pela Liga Espanhola. Em termos de pessoal, a grande mudança foi a efetivação de Casemiro no time titular, dando maior segurança ao meio-campo madridista, aproximando Modric e Kroos da área adversária. Outra mudança importante em relação ao técnico anterior, Rafa Benitez, foi a troca de Danilo por Carvajal na lateral-direita. 

Simeone também não tinha lesionados, e pôde escolher o seus melhores. A única dúvida real do argentino era quanto ao parceiro de zaga de Godín. Acabou optando pelo montenegrino Stefan Savic no lugar de José Giménez. Ambos tinham participado de sete jogos da Liga dos Campeões até então, mas Giménez teve mais participações na Liga Espanhola. De resto, Simeone mandou o 4-4-2 que é seu padrão.



Atlético começa mal

O Atlético chegou na final após eliminar dois gigantes: O Barcelona atual campeão e o Bayern de Munique. Contra esse time, Simeone parece ter encontrado o melhor antídoto. Seu Atlético joga um jogo de marcação por zona que muitas vezes consegue pressionar o jogador com a bola com quatro jogadores de uma vez. Por meio de uma mistura cuidadosa de disposição e boa colocação, o Atlético deixa que os adversários tenham a bola na maior parte do jogo, mas nega-lhes espaço na parte do campo que realmente importa. Fundamentalmente, Barcelona e Bayern acreditam que é melhor se defender tendo a posse de bola longe do seu gol. Já o Atlético acredita que é melhor atacar quando o adversário está avançado e há espaços nas costas dos zagueiros. Por isso, o Atlético precisa de menos chance para fazer seus gols, já que só ataca com espaço.

Para o Atlético, fazer o primeiro gol é crucial. Conseguiu fazer isso nos jogos anteriores e não foi por acaso. Tradicionalmente, ele começa o jogo com muita energia, pressionando forte na frente. Aqui, repetiu a estratégia, mas não pareceu ter a mesma intensidade. Buscou jogo no inicio pela direita com as subidas de Juanfran, aproveitando o fato de que Cristiano Ronaldo não costuma participar da marcação nesse momento da carreira - de fato, ele jogou mais como segundo atacante do que como ponta - e que ele não estava nem perto de 100% fisicamente.

A peça-chave nesse momento foi Bale. Começando pela esquerda, ele acabava vindo para o meio para pressionar os meio-campistas do Atlético, confundindo-os. Esse movimento também a ajudava a deixar o jogo muito compacto lateralmente, com os laterais do Atletico fechando muito por dentro na fase defensiva. Os meias Saul e Koke também fechavam bastante para pegar Kroos e Modric, deixando espaço para subidas dos laterais do Real. Bale acabou conseguindo a falta cobrada por Kroos que ele mesmo desviou para Sergio Ramos fazer o gol.

Real pragmático e Atlético um peixe fora d'água.

A partir daí, toda a estratégia do Atlético se desfez. Precisando buscar o gol, ele teve de levar o jogo ao Real. Diferentemente de Barcelona e Bayern de Munique, o time de Zidane não teve vergonha em se recolher e confiar na solidez defensiva. Bale e Benzema corriam por Ronaldo, mas não voltavam tanto, conservando energia e tentando sempre estar dispostos para um contra-ataque que seria o fim do jogo. Por consequência, o trio de volantes-meias do Real era forçado a se movimentar de um lado para o outro para fechar as laterais do campo.

Entre o gol e o fim do primeiro tempo, Atlético conseguiu trabalhar a bola no ataque, principalmente pela esquerda.
Entretanto, muitas dessas jogadas acabaram em cruzamentos errados.
O Atlético pelo menos conseguiu manter a posse nessa etapa do jogo, principalmente devido ao trabalho do seu maestro, Koke. O espanhol trabalhou pela esquerda, muitas vezes combinando com Felipe Luis, que foi a principal válvula de escape do Atlético depois do gol, e com Griezmann, que tinha muita liberdade de movimentação. Griezmann recebeu em alguns momentos entre as linhas e tentou alguns chutes de fora da área, sem sucesso. Ainda que muitas das jogadas tenham terminado em cruzamento infrutíferos - Ramos e Pepe dominando Torres - a posse de bola ajudou a manter o Atlético no jogo, empurrando o Real para o seu campo - entre o gol e o fim do primeiro tempo, o Real só chutou uma vez no gol adversário. Mesmo assim, era claro que o Atlético não tinha o poder de fogo necessário para quebrar o Real.


Simeone muda e o Atlético melhora.

No intervalo, Simeone repetiu a mudança que fez contra o Bayern, tirando Augusto Fernandez e colocando Carrasco. Augusto Fernandez é um monstro na marcação e nas roubadas de bola, tendo feito grande jogos na Liga dos Campeões. Entretanto, precisando propor o jogo, seu papel já não era necessário. A introdução de Carrasco colocou o Atletico em um 4-1-2-3, com Carrasco caindo pela esquerda e Griezmann pela direita. O efeito surgiu mais rápido que o esperado, com Torres sofrendo pênalti após passe de Griezmann. O francês cobrou e chutou no travessão, jogando um banho de água fria nas esperanças do Atlético.

Em seguida, Daniel Carvajal, machucado, deu lugar a Danilo. O brasileiro mostrou porque foi Zidane o deixou no banco desde que assumiu a equipe. A combinação Felipe Luís e Carrasco causou-lhe muitos problemas, imediatamente expondo o lateral brasileiro, que, além de sua fraqueza defensiva, recebia pouco suporte dos jogadores mais avançados.

Atlético no 4-3-3 com Carrasco na ponta-esquerda.
Isco e Vasquez oxigenaram o Real.
O Real Madrid continuou se contentando em se defender. Ainda assim, preservando seus homens da frente, conseguiu ameaçar com alguns contra-ataques importantes. Zidane ainda removeu Benzema e Kroos para colocar Isco e Lucas Vasquez, buscando repor as energias do time.  Quase funcionou, e o Real esteve muito perto de fazer o segundo gol. Entretanto, quem acabou fazendo foi o time do Atletico. Juanfran, Gabi e Griezman fizeram uma combinação na direita, para cima de Isco e Marcelo. O lateral espanhol chegou a linha de fundo e cruzou no segundo pau, onde Carrasco chegou primeiro que Danilo para empatar o jogo. O Real ainda tentou esboçar uma reação, mas o Atlético soube se fechar e acabou levando o jogo pra prorrogação.


Real cansa e Atlético não aproveita.

Na prorrogação, o Real cansou, simbolizado principalmente por Cristiano Ronaldo usando a trave adversária para fazer um alongamento contra a câimbra. Reconhecendo seus problemas, manteve sua estratégia de defesa + contra-ataque. Ainda assim, conseguiu levar perigo a meta de Oblak, o que mostra que foi uma estratégia bem-sucedida. Ronaldo, mesmo muito abaixo da sua capacidade física, terminou o jogo como o homem que mais chutou a gol.

Quem realmente se destacou nesse momento foi Casemiro. O jovem brasileiro brilhou nos momentos finais com ótima participação defensiva, cobrindo seus companheiros cansados, chegando a frente e inicando contra-ataques. Com essa grande atuação, ajudou a minar os esforços do Atlético de aproveitar o cansaço do Real.

Casemiro terminou o jogo como o melhor jogador no aspecto defensivo.
Errou apenas duas investidas (X laranja) e uma afastada de bola ( O laranja).
Sua participação foi essencial para o plano de jogo do Real Madrid.
Uma nota interessante é a inversão de papéis em relação à final de 2014. Naquele ano, Atlético foi campeão espanhol vencendo na última rodada, e teve apenas duas semanas de preparação para a final. Além disso, tendo jogado o campeonato inteiro com um número reduzido de jogadores, eles chegaram cansados na final, e foram destruídos na prorrogação devido ao cansaço. Juanfran era o mais cansado e sofreu naquele dia. Nesta final, por outro lado, o time do Atlético era o mais preparado fisicamente, e Juanfran parecia querer se vingar. Em determinado momento da prorrogação, ele correu demais e causou muitos problemas ao Real. Uma pena que, na hora dos pênaltis, tenha sido justamente ele que acabou perdendo o decisivo.

Conclusão

Um jogo atípico porque forçou o time menos técnico a propor, e deixou o time mais técnico especulando. Conseguir o primeiro gol foi crucial para Zidane, que entendeu que é muito díficil pressionar o Atlético no seu campo, como Bayern e Barcelona fizeram e foram castigados. Recolheu as linhas e impediu o Atlético de mostrar os seus pontos fortes. Ainda assim, é possível argumentar que se o Griezmann tivesse feito o pênalti...

Se o técnico argentino desenvolveu o melhor antídoto para o jogo moderno de ultra posse de bola, ele não tinha respostas para um enfrentamento mais tradicional. A utilização de um cabeça-de-área para dar liberdade aos criadores é algo que Zidane teve com Makelele no Real e na França, mas que há muito não se usava mais.

Simeone, Guardiola e Luis Enrique experimentaram mais e deixaram um maior legado tático nessa temporada. Mas, no fim, quem acabou levando o troféu para casa foi o Real Madrid, pela décima-primeira vez. Zidane optou por uma abordagem simples e clássica, poupando seus talentos na frente. Simeone sofreu do seu próprio veneno. Ele é o destruidor de filosofias, mas não venceu o pragmatismo.

0 comentários:

Postar um comentário